O Rei Mendigo...

domingo, 11 de abril de 2010




"(...)Perplexo, eu olhei com fraternidade e compaixão para o sábio a minha frente, certo de que minha piedade, no passado, assistida pelos conselhos de Shamira, havia alfim gerado um soberano. Não um soberano comum, detentor de um império magnífico, mas um mestre da sabedoria, um profeta de verdade. O Rei Mendigo superara as suas provações, e finalmente tornara-se tão grande quanto um dia quisera ser.

- E voçê, para onde vai agora? - perguntei.
Eu o ouvi sorrindo baixinho

- Vou continuar o meu martírio, renegado. Vou continuar a ser açoitado, apedrejado e discriminado. Mas isso não me enfraquece. Não tenho inveja dos ricos, dos generais, dos imperadores, porque eu já estive no lugar deles, e esse foi o pior dos meus castigos.

Ao fim de seu discurso, o moribundo cabeceou um cumprimento, deu meia volta e deixou o povoado, para nunca mais regressar. Errou para o sul, sem sandálias, com os pés machucados, raspando a sola contra a areia fervente. Enquanto a sua figura caía no horizonte, sumindo em carona com o sol poente, eu escutei o trotar inconfundível de Ibn-Hatar, guiado pelo criado siciliano.

- Eu não quis interrompê-lo, companheiro, mas fiquei curioso em saber o que conversava com aquele mendigo. Pelo modo como deliberabem, qualquer um diria que se conhecem há anos.

Eu achei a observação um tanto oportuna.

- Tudo o que eu sei são lendas, Tommaso. Nas terras da Suméria, quando a civilização era jovem, contava-se que havia um rei imortal que governara o maior de todos os impérios da Terra. Era um reino degenerado, pútrido, odioso. O Terrível monarca obrigava os seus escravos a trabalharem até a morte, para erguer monumentos em seu nome. Um dia, um anjo renegado chegou à capital procurando vingança e, com sua espada mística, golpeou o soberano. O rei não morreu, mas a ferida que carregava não podia mais ser curada, e ele foi condenado ao esquecimento. Desde então, o Rei Mendigo percorre o mundo como indigente, pagando pelo mal que fez aos seus súditos.

- Gostei da história - replicou o criado - Mas esse rei... qual era o seu nome?

- Ele renegou o seu nome. Decidiu por vontade própria abandoná-lo, e com isso deixoupara trás toda a culpa que carregava.

O siciliano suspirou e voltou a olhar na direção do mendigo, mas ele havia sumido.

- Venha - convidou -, estamos começando a preparar o jantar.

Eu o acompanheim com um pensamento a martelar o cérebro. Isso acontece frequentemente quando se vive demais - não só ouvimos lendas, mas nos tornamos parte delas.

Eu sabia o nome do rei.
O nome era Nimrod."

Diálogo entre Ablon, o primeiro general, o anjo renegado.... e Ninrod o Rei imortal da Babilônia, o Rei Mendigo.

.... Uma das passagens mais maravilhosas que já li em um livro...

que livro?

A Batalha do Apocalipse do Eduardo Spohr

Simplesmente fantástico esse livro.

Ainda mais por ser de um brasileiro e nerd =D

Recomendo MUITO esse livro...

sem mais.

porque quero terminar de ler xD